5. A teoria polar, o conhecimento e a transa das formações
Uma vez que o conceito de pulsão é o articulador geral da teoria psicanalítica e a operação do revirão é destacada como básica no funcionamento do Haver, a nova psicanálise toma o que quer que se manifeste no Haver como emergências artificiosas, sejam emergências espontâneas, que estão aí desde sempre, ou industrialmente produzidas19. E mais, estas emergências (espontâneas ou industriais) são consideradas formações, isto é, coalescências resultantes da partição que acontece diante da impossível realização do revirão último (aquele entre Haver e não-Haver).
Formação é um conceito da teoria polar das formações que a nova psicanálise vem desenvolvendo junto com sua teoria do conhecimento, a gnômica que mencionamos antes. Para esta teoria polar, o que há são formações. Mesmo gente, humanidade, nossa espécie, são formações. Estas são, entretanto, chamadas idioformações20 porque, além de características biológicas e comportamentais presentes em muitos dos seres vivos, portam o revirão. Por isso, apenas uma idioformação tem “condições de trans-por sua própria formação” (MAGNO [1996], p. 393), mas sua presença não é necessária para que haja conhecimento.
As formações são compostas de aglomerados de formações que resistem, mas não têm como impedir o revirão, isto é, o movimento de transformação em outra coisa diferente delas mesmas, ainda que esta transformação leve milênios para ocorrer. Pensa-se, então, em aglomerados de formações sem fronteiras, mas que se polarizam e se configuram como formação e como resistência. No polo assim concebido, o foco pode ser situado, mas não sua franja, que é interminável e está intricada com franjas de outros polos. Por não pensar aplicando fronteiras, a teoria polar supõe que as formações se co-movem e podem se acoplar (comunicar) umas às outras chegando mesmo a se transformarem. A teoria polar das formações reconhece, portanto, a existência de polos e busca apreendê-los mediante a descoberta de focos e a descrição aproximada da franja (id., p. 115).
O que há, então, são Formações do Haver. E o conhecimento é entendido como aquilo que resulta de uma transa21 entre as formações – outra noção importante da teoria –, incluindo ou não a presença de uma idioformação nesta transa: simplesmente “algo se anota quando algo se dá” (MAGNO [2000/01], p, 72). Se o conhecimento se explicita somente com a participação de alguém ou de alguma formação preparada por alguém com este propósito, isto apenas implica a necessidade dessa participação na explicitação, “mas não que seja desse alguém a produção” (MAGNO [1998], p. 75). Vê-se aí um diferencial claro em relação a abordagens de base epistemológica, já que não se pressupõe um sujeito diante de algum objeto para que haja conhecimento: são, sim, formações em transa resultando em conhecimento. Segundo a perspectiva pulsional, é esta co-moção das formações que está na base de qualquer processo comunicacional e é dela que decorre a definição de Comunicação para a transformática.
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