Eu no mundo e a escola em mim Entre flores e muros: formação, currículo e vivências escolares
RELATO MEMORIAL SOBRE A MINHA EDUCAÇÃO: EU NO MUNDO E A ESCOLA EM MIM
Cynara Carvalho de Abreu
Depois que me tornei adulta e adentrei na maravilhosa área da docência, comecei a querer entender quais eram os motivos que me fizeram ser professora. E mais, o quê me fez ser como me reconheço hoje? O encontro com a área da Educação me abriu possibilidades reais para que eu planejasse uma viagem ao passado e pudesse reconstruir a minha trajetória de forma a tentar compreender a minha formação. Não me preparei academicamente para ser professora, mas alguma coisa em mim me levava a essa área e assim que tive a oportunidade a abracei fortemente. Não obstante, compreendi que a base científica e metodológica da Pedagogia e da Educação eram lacunas para mim. Se eu me sentia professora o que teria me feito assim?
Conhecendo melhor a área da pesquisa educacional, deparei-me com uma abordagem relativamente nova: o método autobiográfico. Vi nessa perspectiva a chance de poder, a partir da minha experiência, compreender o meu processo formativo e, melhor, fazer com que outras pessoas pudessem reconhecer as suas histórias na minha história. Eu não estudei para ser professora, mas quis muito sê-lo e hoje, eu sou. Quantas pessoas também comungariam dos mesmos sentimentos? Decidi escrever sobre a história da minha formação e levantei uma hipótese sobre mim mesma. Eu instituí provisoriamente uma figura de mim e a submeti a avaliação da minha experiência (Delory-Momberger, 2006). Através da sucessão e da diversidade das minhas experiências, hipotetizadas por mim mesma, testei e experimentei a validade da minha construção identitária e deparei-me com a possibilidade de reconfigurá-la.
Ao me apresentar por meio de um relato, faço uma interpretação de mim mesma, uma vez que explicito as etapas e os campos temáticos da minha construção. Concomitantemente, assumo o papel de intérprete do mundo histórico e social em que estou inserta e assim, produzo categorizações que permitem me apropriar do mundo social no qual defino e tenho definido o meu lugar. (Delory-Momberger, 2006)
Remontar a minha experiência escolar e os seus entornos, referenciando pessoas, grupos e acontecimentos que fazem parte da minha trajetória, foi o que me propus a fazer neste texto. Para tanto, busquei traçar um fio condutor da história de minha vida que tivesse seu eixo no processo de formação escolar desde o ensino infantil até a pós-graduação. No entanto, foi para mim impossível construir um relato de mim mesma nestes propósitos sem que pudesse embrenhar-me pelos contextos familiares, sociais e políticos em que me inseri durante o percurso da minha história. Preciso registrar aqui o quão maravilhoso foi para mim a prática autobiográfica.
Procurei trabalhar com um material narrativo constituído por recordações consideradas como experiências significativas na minha aprendizagem e sobre o legado que a escola me deixou (e deixa). Ao escolher falar sobre aquilo que considero experiências formadoras em minha vida escolar, falo de mim e do mundo que eu enxerguei. Somente a partir da identificação dessas experiências pude entender de que maneira as dinâmicas de formação, de conhecimento e de aprendizagem narram a inter-relação entre o meu passado, o meu presente e o meu futuro.
(...) para que uma experiência seja considerada formadora, é necessário falarmos sob o ângulo da aprendizagem; em outras palavras, essa experiência simboliza atitudes, comportamentos, pensamentos, saber-fazer, sentimentos que caracterizam uma subjetividade e identidades. (JOSSO, 2004, p. 47-48)
A HISTÓRIA DA MINHA EDUCAÇÃO
Dom Bosco certa vez registrou: “Os maus servem de exemplo e os bons de modelo”. Que eu siga o modelo de Nóvoa (1995) em “Vida de professores”. Escrevo, portanto, sobre a minha história (pelo menos parte dela) ao mesmo tempo em que faço reflexões sobre meus trinta e poucos anos e o meu trajeto na escola, que se passam inevitavelmente pela minha família e pelos meus outros significativos.
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