4.2.1 Como operacionalizar a caixa de trabalho
para o espaço da sala de aula
Inicialmente, o educador disposto a usar este recurso deve internalizar um posicionamento diferenciado diante do aprender, foco de todas as nossas discussões. Ele deve, portanto, ser capaz de rever seu processo de aprendizado de maneira a saber lidar com o inesperado, partir da dúvida e da busca coletiva para respostas e soluções que não desconsiderem o conhecimento historicamente construído que está presente nos âmbitos que atua.20
É de suma importância que o educador conheça o perfil do grupo de alunos de sua sala de aula para propor o trabalho com a Caixa de Trabalho, considerando as necessidades do grupo e suas características cognitivas, afetivas, funcionais e socioculturais. Outro fator a ser considerado são os objetivos do educador em desenvolver este procedimento. Ele pode utilizar esse recurso para reforçar determinado conteúdo, como as frações, ou para que os alunos construam um conhecimento sobre determinado conteúdo, como por exemplo os oceanos.
Para o educador realizar um enquadramento adequado do trabalho com a caixa, ele deve estar esclarecido a respeito do significado desse recurso. Ele pode trabalhar com o grupo todo de sua classe ou com pequenos grupos. Em ambas as situações, é importante que o material escolhido para a montagem da caixa tenha relação com o perfil do grupo e com os objetivos do trabalho. “A escolha do material deve ser criteriosa, porém não ser completa. Costumamos dizer que a caixa de trabalho deve deixar espaço para o desejo e não esgotar todas as necessidades das crianças”21.
Os materiais usados na composição da caixa podem ser básicos, como: papel, lápis, apontador, borracha, régua, cola, tesoura, caneta, revistas, cadernos etc. A caixa também pode conter materiais como argila, tinta, massa de modelar ou materiais semiestruturados como: peças de encaixe, miniaturas, blocos e materiais estruturados (jogos com regras, jogos com modelos etc.).
Ao ser apresentada para o grupo, a caixa deve estar vazia e “neutra”. As crianças devem, então, personalizá-la, de forma a deixá-la particularizada, sinalizando que ela lhes pertence. Podem pintar, colar, escrever, fazer qualquer coisa que a diferencie de qualquer outra. Com base nos materiais separados pelo educador, o grupo deve escolher aqueles que considera significativos para o trabalho. É importante que, nesse momento, o educador questione o porquê da escolha de determinados materiais em detrimento de outros.
O educador pode incluir no seu planejamento dias e horários predeterminados para trabalhar com a caixa, e o grupo deve escolher um local para guardá-la, de modo que ninguém, a não ser indivíduos daquele grupo, mexa nela. Todas as produções do grupo devem ser guardadas na caixa, de maneira que ela se torne continente para os conteúdos grupais e individuais.
A caixa de trabalho auxilia o educador a intervir em situações que possibilitam a vivência do aprender, pois sua atitude operativa frente aos comportamentos e atitudes observadas deve levar o grupo a construir seu processo de aquisição de conhecimentos, tornando-se mais autônomos e autores de suas aprendizagens.
Outro fator importante que se consegue desenvolver com a caixa de trabalho na sala de aula é a vivência de conteúdos intra e intergrupais, pois as tarefas devem possibilitar o enfrentamento das pressões grupais, bem como dos movimentos corporativos de um grupo. Isso também é aprendizagem.
A consigna dada pelo educador deve favorecer a atitude dos educandos em usar o material da caixa de forma a escolher com o que e de que forma desejam trabalhar. O movimento do grupo com base nessa primeira consigna deve ser observado pelo educador. Essa observação será o guia para suas intervenções psicopedagógicas, caracterizada pela operatividade. Os recursos de intervenção devem possibilitar o avanço do grupo, ou melhor, de cada sujeito do grupo, em relação ao seu processo de aprendizagem.
Maria Lúcia Weiss22, referindo-se ao uso do lúdico no processo de diagnóstico psicopedagógico, nos fornece alguns pontos importantes a serem observados no brincar da criança, que podem ajudar o educador a observar seus alunos na interação com a caixa de trabalho. Alguns estão relatados a seguir, contextualizados para o nosso objetivo com o trabalho com grupos:
Escolha do material
Escolhem materiais que automatizem as ações; repetição de atitudes do cotidiano escolar;
Selecionam material figurativo;
Buscam material mais plástico, de fácil criação;
Escolhem materiais de sucata e os transformam.
Modo de operar
Usam o material que está mais ao alcance das mãos; não há exploração;
Exploram todo o material e depois fixam a atenção em um;
Escolhem materiais planejando uma brincadeira;
Fazem estimativas, cálculos, medidas;
Estruturam as brincadeiras em começo, meio e fim;
Há coerência interna, antecipação e planejamento nas atividades;
Dão ou não uso ao que fazem;
Permitem flexibilidade;
Concluem as atividades;
Começam a atividade e a interrompem;
Permanecem concentrados, dão continuidade às atividades;
Desmancham, separam, dividem;
Em situações dramatizadas assumem papéis, normas e regras com facilidade;
Como resolvem as situações-problema;
Como usam o corpo.
Com base no estabelecimento das consignas do trabalho com a caixa de trabalho é muito importante que o educador preste atenção no campo relacional que se está configurando entre educador e educando (aqui entre educador e grupo), pois permite a formação de uma unidade funcional que tem como objetivo a realização de operações que estabilizem condutas e promovam desenvolvimento.
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