syzygias que, em termos junguianos, se constituem dos aspectos positivos e negativos dos arquétipos. Como, para Jung, o inconsciente é a matriz da consciência, nós não temos os pensamentos, mas eles fluem para nós a partir do Pleroma (função psicológica da intuição) e abrem nossa consciência para a plenitude do Ser.
Assim, a verdadeira natureza do homem implica a relação dialética entre a consciência e a inconsciência, entre a moral e o instinto, sendo que nós no Ocidente privilegiamos a consciência, enquanto o Oriente desenvolveu mais seu relacionamento com o inconsciente.
Daí que o desejo de autoconhecimento, da mesma natureza que o desejo por alimento ou por sexo, é o movimento pela transformação, superando as unilateralidades da consciência pela compensação exercida pelo inconsciente. Se vida e liberdade se reconquistam a cada dia, podemos dizer que Jung é um precursor da psicologia existencial.
Na verdade, para ele, as teorias são apenas abstrações que nos afastam do mundo concreto e das conexões com nossa criatividade transformadora. Diz ele: É preciso mudar não os conceitos, mas a si mesmo, pondo o pensamento sob o controle do Self.
No 2o Sermão, Jung faz uma espécie de teogonia. Ele fala de Deus, que denomina de Helios (sol) e do demônio. Deus já pertence ao mundo criado, pois se diferencia do Pleroma (é uma qualidade deste), mas é menos definido e diferenciado que a própria criação. Deus é a plenitude efetiva, manifestada do Pleroma; é a criação como atividade. Ele é a potencialidade do bem e do mal. É como a luz das estrelas que nos guiam, enquanto o demônio é o espaço vazio manifestado, que circunda cada uma. Ele é também o vazio efetivo do ser e o mal, como um princípio que atua em nós. O que Deus constrói, o demônio destrói, numa trama eterna de criação e destruição.
Na psicologia junguiana, esses dois princípios estariam representados pelos arquétipos, as formas estruturantes de nossa psique e eles só existem se os discernirmos do Pleroma que eles também são.
Esse dualismo DEUS-DEMÔNIO (influências zoroastrinas e maniqueistas) só existe no mundo das emanações, como as primeiras manifestações do NADA ou do Pleroma resistindo um ao outro, como opostos ativos, pela atividade de ABRAXAS, o deus incognoscível da atividade real do todo, ou da não-realidade ativa do ser criado. No Pleroma, eles se anulam porque se unificam.
Para Jung, a atividade está acima de Deus e do Demônio, pois ABRAXAS, a atividade manifesta do Pleroma, preexiste a ambos e cria os seres diferenciados do Pleroma. Aqui é patente a influência de Goethe em Jung, quando no capítulo V, do Fausto, o poeta alemão diz: No princípio era a ação...
Assim, bem e mal não seriam encarados como realidades éticas ou morais (ele critica, pois, o cristianismo por ter reduzido o problema à sua única dimensão moral), mas como forças metafísicas (por sua magnitude titânica), o que explica o célebre antinomianismo (desprezo pelas leis dos homens) por parte dos gnósticos. Enfim, o que está em jogo é o princípio do poder, a persistência e a mutação em todos os seres, pois, para ele, a vida é uma tensão de opostos e o mal é o oposto necessário para que se reconheça o bem (
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