A Ressurreição Católica nas Livrarias
Com o avanço evangélico e espírita esperava-se que sucessos literários católicos defenestrassem. Por um momento parecia que a profecia iria se cumprir. Livros evangélicos e principalmente espíritas ocupavam, até a pouco tempo, o rol dos mais vendidos, mas atualmente nos acostumamos a notar que também livros católicos entram nessa lista. Padres vendendo bem, até mais que pastores e médiuns, revelam que quem apostava no falecimento do catolicismo no Brasil, pelo menos em seu meio literário, terá que repensar bastante. O mega sucesso de Ágape (ed. Globo) do Padre Marcelo Rossi, que se tornou o livro mais vendido da história do Brasil com 7,5 milhões de exemplares, parece ter sido o iniciador da ressurreição católica. Invadindo principalmente a autoajuda tradicional os livros católicos, até para se adequarem a esse tema, sofreram modificações em sua estrutura. Não são mais livros religiosos puros, onde os dogmas católicos são apresentados com frieza, mas são livros que tocam a psicologia de quem os lê. As crenças católicas são apresentadas, mas com uma nova abordagem. Um grande exemplo dessa leva é São Jorge - O Poder do Santo Guerreiro (ed. Singular) do Padre Jeferson Mengali onde a biografia do santo mescla-se com ensinamentos psicológicos.
Claro que jornalistas e outros profissionais também se interessariam em pesquisar e escrever sobre o assunto. Há uma grande tiragem de livros-reportagem sobre temas católicos que também enveredam pelo sucesso dos livros católicos em si, embora eles tenham abordagem diferente. Por serem reportagens e, claro, por serem seculares, não possuem o viés religioso dos livros católicos tradicionais, mas são bem aceitos pelos que se interessam por esse tipo de leitura. Há o grande sucesso dos livros Maria, que já está na casa dos 40 mil exemplares vendidos, e Aparecida (ambos da ed. Globo) com 150 mil exemplares vendidos, de Rodrigo, bem como as biografias do Padre Marcelo Rossi feitos por jornalistas como Padre Marcelo Rossi - uma vida dedicada a Deus (ed. Best Seller) de Heloisa Marra e Padre Marcelo Rossi – a superação pela fé (ed. Panda Books) de Edison Veiga.
Claro que, também, ateus e céticos se interessariam pelo tema. Nessa leva toda me chamou atenção um. Intitulado Virgem Maria – Entre Ateus e Cristãos, do historiador Waldon Volpiceli, o livro relata diferentes aparições de Maria na história da humanidade e nos dá uma perspectiva cética e ateísta sobre eles. Segundo o autor o livro foi recusado por 8 editoras, talvez temerosas de confrontar a Mãe de Deus (no Brasil livros ateus questionando o próprio Deus são até aceitos, mas questionando a Mãe de Deus nem tanto) sendo encontrado apenas na Amazon em ebook. Não que o livro não revele o que pensam os cristãos (aqueles cristãos que veneram Maria, as chamadas Igrejas Marianas: Igreja Católica, Ortodoxa, Copta e Anglicana). O livro conta a aparição em si e diz como a notam céticos e religiosos sobre o devido tema, até com debates fictícios entre eles. Estava faltando nessa leva um livro com perspectiva ateísta sobre esse tema, mas o livro tem o mérito de não defender nenhum lado: as duas perspectivas são apresentadas e o leitor tira as suas próprias conclusões. Pessoalmente creio que esse tipo de livro não muda a crença de quem o lê. Quem tem uma perspectiva cética sobre as aparições de Maria, por exemplo, quem não crê nelas, dificilmente se convencerá com os argumentos dos crentes que o livro apresenta. Nesse ínterim também que crê nas aparições, ou pelo menos considera sua possibilidade, dificilmente será seduzido pela interpretação cética do fenômeno.
A nova leva de livros católicos é bem-vinda, até por que são livros que dizem “Jesus te ama” em vez de dizer que existem tais e tais verdades absolutas que, se você não os seguir, estará condenado.
Para quem gosta de querelas teológicas, boa leitura.
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